💜 Para quem está em SP, um convite bem especial. Vem viver uma manhã de prazer com a gente na nova experiência do Instituto Amuta em parceria com o Dan Pinheiro. Mais informações e inscrições no link.
🎙️E para quem estava com saudades das pílulas do nosso podcast, escute essa reflexão no Spotify
O prazer do arrepio subindo pela espinha, da água quente abraçando meu corpo ainda frio, da coluna esticada no chão pela manhã, dos 5 minutinhos em que escolhi não me apressar, da patinha canina em cima das minhas pernas como quem diz “tô aqui com cê”.
O prazer dos raios de sol iluminando meu corpo em um dia frio, do suor escorrendo pelo rosto depois de uma corrida, do lançamento do disco de uma artista favorita. O prazer de um sonho realizado, de uma ligação que mais parece um abraço, dos ínfimos instantes que antecedem o encontro, de uma poesia, uma música ou um meme qualquer pronto pra me arrancar um sorriso no meio de uma reunião entediante.
O resto? O resto é mentira, inventada pelo capitalismo, para nos alienar do nosso prazer e matar as condições para o amor.
Aprendi desde nem sei quando a despriorizar o meu prazer e a colocar minha libido e energia em produtividade, metas e obrigações. E nem me lembro quando passei a ‘compensar’ uma vida desprazerosa com prazeres frívolos como um saco de biscoitos ou uma noite regada a música ruim, paquera sem sentido e vodka com energético.
Como tantas outras pessoas, eu não notei quando passei a bloquear esse impulso básico que garante a preservação da vida, esse mecanismo único e singular que regula o meu corpo, dá o tom da minha existência e ajusta as minhas funções vitais: o princípio do prazer.
Mentiram pra gente quando disseram que crescer é abandonar o prazer, que amadurecer é aprender a negociar (ou seria esquecer?) aquilo que nos satisfaz.
Mas ó..
É a busca pelo prazer que me permite me auto regular, elaborar quem eu sou, buscar aquilo que eu preciso, construir uma existência com sentido, com formas e contornos que colocam meu ‘eu’ no mundo. [Roberto Freire]
É a busca pelo prazer que me tira do estado de estresse, abaixa meu cortisol, regula meu batimento cardíaco, equilibra meu corpo, alivia minha tensão, me coloca de novo naquele lugar gostosinho cujo nome é biologicamente conhecido como homeostase. [Nicole Le Pera]
É a busca pelo prazer que me afasta das minhas neuroses, da minha incapacidade quase crônica de me regular a mim mesma e conduzir minha própria existência em nome do que os outros vão pensar de mim. [Roberto Freire]
Todos os nossos afetos estão na proximidade ou afastamento do prazer. Todo afeto que nos abre, nos mobiliza, nos faz sorrir, nos aproxima, nos traz segurança, conexão, pertencimento e amor é filho do prazer.
Se ser amada é ser vista e legitimada como se é, o distanciamento do prazer nasce também do distanciamento do amor. Da insegurança sistêmica produzida nesse mundo de desamor. Insegurança essa que me distancia de mim e me afasta da possibilidade de buscar aquilo que me satisfaz.
Prazer que quando alienado me distancia da própria possibilidade de sentir real prazer. Eu confesso que entendi tudo errado e só agora estou entendendo que a minha necessidade por prazer se tornou um vício, justamente pela impossibilidade de satisfazê-lo.
Se em uma sociedade adoentada o princípio do prazer é bloqueado na vida de todas nós, como mulher, o prazer foi tirado ainda mais rápido da minha vida.
Quando menina eu não aprendi a me divertir no esporte como os meninos, e logo que a adolescência chegou, às mil cobranças corporais me distanciaram ainda mais do prazer, substituído por obrigação, de cuidar de mim. A gente aprende desde muito nova a se cuidar apenas para performar, para emagrecer, para chegar lá. Spoiler alert: não há lugar algum a realmente se chegar.
Habitar um corpo que sente, que vibra, que se emociona, se afeta, se sensibiliza.
Habitar o prazer que nutre meu corpo. Habitar um corpo que se orienta pelo prazer. Hoje carrego comigo, sem pressa de responder, a pergunta: o que realmente me dá prazer?
Até breve com mais atravessamentos
Marcelle Xavier
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